Por Edson Souza
A principal ilha do arquipélago hoje conhecido como Ilhabela foi batizada como Ilha de São Sebastião pelo navegador italiano Américo Vespúcio, que explorava a costa brasileira a serviço da Coroa Portuguesa. A escolha do nome deve-se ao fato de Vespúcio ter avistado a ilha em 20 de janeiro de 1502, dia consagrado ao santo homônimo no calendário cristão.
Muito antes da chegada dos europeus, o lugar já era frequentado pelos tupinambás, que o chamavam de Ciribaí, termo que pode ser traduzido como “lugar tranquilo”. A exuberância natural da ilha, com suas praias de águas cristalinas, cachoeiras e morros cobertas de Mata Atlântica, fazia dela um local ideal de descanso e rituais.
Com a intensificação da presença portuguesa no litoral, também se multiplicaram as aparições de piratas e corsários. A posição estratégica da ilha, entre o continente e o mar aberto, fez com que ela fosse usada como refúgio e esconderijo de tesouros saqueados. Até hoje persistem lendas sobre riquezas enterradas em locais como o Saco do Sombrio, no leste da ilha.
O processo de colonização formal começou em 1608, com a concessão de uma sesmaria a Francisco Escobar Ortiz, posteriormente outra para Diogo de Unhate. A ocupação definitiva impulsionou o cultivo de banana, fumo, cana-de-açúcar e mandioca, além da construção de engenhos de açúcar e aguardente. A mandioca, em especial, segue presente na cultura alimentar das comunidades caiçaras que habitam a ilha até hoje.
No final do século XVII e início do XVIII, a ilha viveu um período de prosperidade com o crescimento dos engenhos e do comércio local. A elevação do povoado à categoria de vila ocorreu somente em 3 de setembro de 1805, quando recebeu o nome de Villa Bella da Princeza Nossa Senhora d’Ajuda, abrigando então cerca de 3 mil habitantes.
A partir da metade do século XIX, com a proibição do tráfico transatlântico de escravizados, Ilhabela passou a servir como ponto clandestino de desembarque de africanos trazidos ilegalmente. Os navios negreiros fundeavam na isolada Baía dos Castelhanos, e os cativos eram forçados a cruzar a ilha a pé, por trilhas de difícil acesso, até alcançar o continente, fugindo da vigilância das autoridades imperiais.
O uso intensivo da mão de obra escravizada permitiu à ilha atingir seu auge econômico no século XIX. Estima-se que havia mais de trinta engenhos de açúcar espalhados pela ilha, o que resultou em grande devastação da vegetação nativa para dar lugar aos canaviais.
Atualmente, Ilhabela é reconhecida tanto por seu valor histórico quanto por suas belezas naturais, preservando um rico patrimônio cultural ligado à tradição caiçara, ao passado colonial e à memória dos povos originários e africanos que moldaram sua identidade.
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