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23.8.19

Sítios Concheiros no Litoral Norte de São Paulo: Contexto e Diferenças em Relação aos Sambaquis

 Por Edson Souza

As primeiras ocupações humanas no litoral norte de São Paulo, em período pré-colonial, estiveram relacionadas a grupos de pescadores, coletores e caçadores, que exploravam de maneira sistemática os recursos disponíveis nos ecossistemas costeiros. Entre os vestígios materiais mais significativos dessas populações destacam-se os sítios concheiros, registros arqueológicos que permitem compreender aspectos de sua subsistência, organização social e práticas simbólicas.

Caracterização dos Sítios Concheiros

Os sítios concheiros identificados na região datam de aproximadamente 2.500 anos antes do presente. Sua estratigrafia revela uma camada arqueológica com cerca de um metro de espessura, composta principalmente por:

  • Restos ictiológicos (ossos e vértebras de peixes, em grande abundância);
  • Conchas de moluscos e mariscos (em proporção reduzida quando comparadas aos sambaquis);
  • Ossos de outros animais consumidos;
  • Artefatos líticos em pedra lascada e polida, como machados, lâminas e pontas de projétil;
  • Sepultamentos humanos, frequentemente associados a esses depósitos, indicando uso funerário.

Do ponto de vista estrutural, os concheiros não apresentam elevação topográfica expressiva, diferindo dos sambaquis. Neles, os vestígios arqueológicos aparecem distribuídos em bolsões descontínuos, com conchas pouco compactadas, em contraste com as camadas consolidadas observadas nos montículos sambaquieiros.

Concheiros versus Sambaquis

Distinções Arqueológicas e Funcionais

Embora ambos representem registros arqueológicos vinculados a grupos costeiros, há diferenças fundamentais entre sítios concheiros e sambaquis:

Sambaquis:

  • Estruturas monticulares monumentais, resultantes do acúmulo sistemático de conchas, ossos e sedimentos, podendo alcançar grande porte.
  • Conchas compactadas em camadas sucessivas, compondo um registro estratigráfico mais estável.
  • Função múltipla, envolvendo descarte alimentar, uso funerário e caráter simbólico como marcador territorial e social.
  • Cronologia geralmente mais antiga, abrangendo milênios de ocupação.

Concheiros:

  • Depósitos horizontais ou discretos, sem a formação de montículos. 
  • Predominância de restos de peixes, com conchas em menor quantidade e pouco compactadas.
  • Indicam uma economia voltada de forma mais acentuada para a pesca, representando uma alteração no padrão de subsistência em relação aos sambaquieiros.
  • Apesar da menor monumentalidade, também apresentam práticas funerárias, denotando importância cultural.

Implicações para o Estudo das Populações Costeiras

A análise dos sítios concheiros do litoral norte paulista aponta para uma transformação adaptativa na subsistência das populações locais. Enquanto os construtores de sambaquis realizavam uma coleta especializada de moluscos, os grupos associados aos concheiros demonstram maior ênfase na exploração dos recursos ictiológicos. Esse dado sugere uma reorganização econômica e social, possivelmente relacionada a mudanças ambientais, pressões demográficas ou redefinições nas estratégias de ocupação do espaço litorâneo.

Além disso, a presença de sepultamentos humanos nesses contextos evidencia que tais sítios não devem ser compreendidos apenas como depósitos de descarte, mas também como lugares de memória social e práticas funerárias, articulando dimensões econômicas e simbólicas da vida desses grupos.


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