Por Edson Souza
Nesta fotografia registrada por Ruben Bianchi, vemos Antônia da Conceição Silva dos Santos, carinhosamente conhecida como dona Toninha, figura marcante da comunidade da Praia Grande, em Ilhabela. Á sombra de uma pequena barraca de madeira pintada de azul, ela vendia doces, balas e refrigerantes às crianças que passavam pela estrada.
Neta de portugueses e espanhóis, dona Toninha cresceu entre tradições caiçaras e histórias de um tempo em que a estrada sul ainda era apenas uma trilha de terra batida. Em entrevista concedida ao jornal Imprensa Livre, ela recordou que seu pai trabalhava na roça, plantando e colhendo cana-de-açúcar para abastecer os engenhos de aguardente que movimentavam a economia local.
Dessa produção artesanal nasceram marcas que se tornaram conhecidas em toda a ilha, como as cachaças “Morrão Caiçara”, “Bexiguinha”, “Batango”, “Fagulha” e “Leite & Irmãos”, produzidas na Praia Grande e no Bexiga. Já nas proximidades da Praia do Curral, destacavam-se as aguardentes “Cristina” e “Vale”, enquanto no bairro São Pedro era feita a tradicional “Rodamonte” e na Fazenda São Matias a cachaça “Feiticeira”.
Filha da terra, dona Toninha nasceu e viveu sua vida na Praia Grande. Quando menina, frequentou a antiga escola da Prainha (Remanso/Julião), até que, em 1968, foi construída a Escola da Praia Grande, atual Escola Anna Leite Julião Torres.
Em 1980, ela montou sua barraca no bairro, prometendo ao então prefeito que não venderia bebidas alcoólicas nem cigarros — e cumpriu essa promessa por toda a vida. Lembrava que, naquela época, os carros já começavam a circular, mas a estrada ainda era de chão; em dias de chuva, era comum ver veículos atolados na subida do morro.
Com o passar das décadas, acompanhou o desenvolvimento do bairro. Para ela, a chegada da energia elétrica, os avanços na saúde e a urbanização das ruas e calçadas trouxeram melhorias significativas; mas, em suas palavras simples e certeiras, fazia uma ressalva: — “Hoje está tudo melhor, mas a educação que as crianças recebiam dos pais, essa sim era outra.”.
A entrevista com dona Toninha é extensa e preciosa — um verdadeiro documento imaterial sobre o cotidiano e as transformações da Praia Grande ao longo do século XX. Por ora, ficamos com o registro fotográfico que, mais do que uma imagem, é um elo com as lembranças da nossa infância e da história viva de Ilhabela.






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