Por Edson Souza / Especial: Serramar Shopping
A história da chamada Fazenda dos Franceses, em
Caraguatatuba, está diretamente ligada aos impactos econômicos e comerciais
provocados pela Primeira Guerra Mundial (1914–1918) e à inserção do capital
estrangeiro no litoral norte paulista no início do século XX. Trata-se de um
episódio significativo para a compreensão do processo de ocupação territorial,
exploração de recursos naturais e transformação econômica da região.
Segundo informações publicadas no jornal Diário de Santos,
em 1º de setembro de 1915, a eclosão do conflito na Europa comprometeu a
produção de dormentes ferroviários naquele continente, além de provocar o
fechamento de portos e restringir o comércio internacional de madeira. Esse
cenário abriu novas oportunidades para países fornecedores de matéria-prima,
como o Brasil, e favoreceu a atração de investimentos estrangeiros para áreas
ainda pouco exploradas economicamente.
É nesse contexto que se registra a chegada efetiva do
capital externo a Caraguatatuba. Atas da Câmara Municipal datadas de 4 de
outubro de 1915 e 12 de abril de 1916 mencionam a concessão de alvarás para a
exploração madeireira no município. Uma dessas autorizações foi concedida ao
engenheiro José Charvolin, empresário atento às possibilidades abertas pelo
novo momento econômico.
De acordo com publicação do Jornal do Comércio, de 4 de
janeiro de 1918, Charvolin aproveitou o acordo comercial então vigente entre o
Brasil e a Itália para integrar-se a um grupo de investimentos e fundar a Estatal
Italiana de Madeiras J. Charvolin na região. A empresa adquiriu cerca de 4 mil
hectares de terras em Caraguatatuba, com o objetivo de explorar principalmente
as madeiras de araribá e jequitibá, destinadas à produção de dormentes
ferroviários.
A logística de escoamento da produção utilizava os rios Camburu
e Juqueriquerê, por onde a madeira era transportada até o canal da Ilha de São
Sebastião, onde navios realizavam o embarque para exportação. Esse sistema
evidencia a importância estratégica da hidrografia local para a integração da
economia regional ao mercado internacional.
Entretanto, a partir de 1917, a empresa passou a
enfrentar dificuldades crescentes, como a redução do número de funcionários e o
aumento da carga tributária. Diante desse cenário, a estatal de Charvolin
acabou sendo adquirida por um grupo francês associado ao Banque Française pour
le Brésil, conforme noticiado pelo Jornal do Comércio na edição de 4 de janeiro
de 1918.
Sob nova administração, os investidores franceses
mantiveram as atividades, agora sob a razão social “Société Française pour
l'Exploitation et le Commerce de Bois Exotiques”, denominação que rapidamente
se popularizou na região como “A Fazenda dos Franceses”. Apesar da continuidade
operacional, os novos gestores logo se depararam com limitações importantes:
grande parte da madeira disponível na área era caxeta, espécie de baixa
resistência e pouco atrativa para os mercados internacionais mais exigentes.
Somadas às dificuldades técnicas, a falência do banco
responsável pelo financiamento das operações no litoral norte paulista agravou
a situação. Com isso, os imóveis vinculados ao empreendimento foram colocados à
venda, encerrando mais um ciclo de investimento estrangeiro na região.
Finalmente, em 1927, a extensa área foi adquirida pelo
grupo britânico Lancashire General Investment Company, que rebatizou o
empreendimento como “Fazenda dos Ingleses”, marcando uma nova etapa na história
da propriedade e reforçando o caráter internacional que marcou, desde cedo, a
exploração econômica do território de Caraguatatuba.
Esse episódio histórico revela não apenas a importância
estratégica do município no contexto econômico do início do século XX, mas
também as dinâmicas globais que influenciaram diretamente o uso da terra, a
exploração dos recursos naturais e a formação do espaço regional.
Por Edson Souza / Especial: Serramar Shopping












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