Por Edson Souza
Na antiga Barra Velha, década de 1970, ergueu-se o Hotel Neve, um prédio simples, de um pavimento, pintado em verde claro. Era um dos pontos de hospedagem da ilha, assim como o “Hotel Ibél”, que funcionava na entrada da cidade. A localização estratégica, em frente ao caminho das balsas, fazia com que as filas de embarque passassem diante do hotel, colocando-o no fluxo da vida cotidiana de Ilhabela.
Segundo recorda a caiçara Maria Aparecida, o proprietário, vindo de fora, abriu o empreendimento em meio ao cenário da comunidade. À frente do prédio, um pé de manga — que ainda resiste no mesmo lugar — era alvo das travessuras das crianças da época. Ao sair da escola, atiravam pedras para derrubar as frutas, mas muitas vezes acertavam o telhado do hotel. A cena que se repetia era a do dono correndo atrás da garotada, vassoura em punho, numa mistura de bronca e riso que marcou a memória coletiva.
Com o passar dos anos, a paisagem mudou. O Hotel Neve foi desativado e, posteriormente, o imóvel desapropriado pelo município, com o objetivo de instalar lá uma unidade de saúde — projeto que não saiu do papel. O espaço permaneceu vazio por anos naquele trecho da Barra Velha.
Foi somente em 2012 que o antigo terreno começou a ganhar nova função social, desta vez ligada à cultura e à educação. Ali se iniciou a construção de uma unidade de Biblioteca Municipal, inaugurada em 21 de setembro de 2013, como parte das comemorações dos 208 anos de Ilhabela. O espaço recebeu o nome da professora e ex-prefeita Nilce Signorini, em reconhecimento à sua trajetória política e comunitária.
Desde então, a Biblioteca e Videoteca Municipal “Prefeita Nilce Signorini” consolidou-se como polo cultural. Em 2014, ganhou um elevador, ampliando a acessibilidade e segurança. No térreo, reúne acervo de livros e a videoteca; no piso superior, abriga o auditório, espaço de encontros e eventos. Em 2020, passou por reformas estruturais que modernizaram a unidade, garantindo melhores condições para o público.
Localizada à Avenida Princesa Isabel, 2626, a biblioteca oferece empréstimos de livros de forma simples e acessível à comunidade, perpetuando o valor da leitura e da cultura.
A história do espaço, no entanto, não se dissocia da vida de Nilce Signorini, personalidade que marcou a política local. Vereadora eleita em 1989, chegou a presidir a Câmara Municipal, foi prefeita entre 1997 e 2000, vice-prefeita de 2013 a 2016 e, mais tarde, secretária de Desenvolvimento e Inclusão Social até 2020. Sua trajetória pública se entrelaça com a memória do prédio, que hoje carrega seu nome e simboliza a transformação do espaço urbano — de um hotel de passagem à casa permanente da cultura.












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